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SteamPunk | Quem decide o que é SteamPunk?
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nov 05 2008

Quem decide o que é SteamPunk?

A beleza está nos olhos de quem vê… e o significado também…

Uma das coisas mais interessantes acerca da produção cultural é o fato de que o espectador, independente das intenções do autor de uma obra, resignifica aquilo que está observando.

O próprio SteamPunk é um construto, uma perspectiva muito atual, uma forma de olhar para o passado e imaginar um momento histórico que jamais aconteceu.

Mais que isso, autores como Julio Verne jamais sequer poderiam ter escutado o termo SteamPunk e, no entanto, suas obras são comumente associadas a este sub-gênero da Ficção Científica.

É muito comum, em discussões apaixonadas ou não, que se discorde sobre o que é e o que não é SteamPunk, uma vez que há espectadores mais puristas e espectadores menos puristas.

Freqüentemente os envolvidos com o movimento SteamPunk ouvem perguntas como “O que é SteamPunk?”. Para além das mais diversas definições, seja da Wikipedia, do SteamPunk.com.br ou do SteamPunkBrasil.com, existe o ponto de vista de quem está olhando para a obra.

Sempre vai haver discussão acerca de se algo é Hard Science Fiction ou não, se Science Fantasy é ou não um gênero em si mesmo ou um sub-gênero, e toda sorte de discordâncias a esse respeito. Cultura, contudo, não é tanto sobre seu conjunto de definições quanto acerca de descoberta, fruição e conhecimento.

É bastante comum que blogs como o SteamPunk.com.br ou o BoingBoing – do escritor de Ficção Científica Corey Doctorow – causem afronta aos mais puristas.

A discussão é, porém, tão infrutífera quanto se a banda tal é ou não Rock Progressivo, se a Bíblia é ou não literal ou o sobre o que é Arte.

Todas estas questões são interessantes se levadas em um nível desapaixonado e indo além das definições “almanáquicas” ou de dicionário.

Filmes passados na década de 40, 50 e 60 podem ter elementos e influência SteamPunk?

Em “HellBoy”, que começa na Segunda Guerra Mundial, a influência estética do gênero é muito forte e está não só a serviço da narrativa, mas faz parte da “paleta” com a qual o artista pinta o resto do filme.

É claro para todos que não houve guitarra, computador com tela de LCD ou arma de raios na Era Vitoriana. Entretanto, o SteamPunk é muito menos uma definição e muito mais uma ferramenta a serviço da produção de subjetividade, seja ela um filme, uma ilustração ou um dispositivo eletrônico.

É claro também que, independente da referência estética Vitoriana, o SteamPunk não precisa se passar na Era Vitoriana, do contrário “Metrópolis”, “Hellboy” e “Rocketeer” não poderiam ser listados dentre os filmes inspirados em SteamPunk.

É fato, inclusive, que muitas das obras associadas hoje com a proposta estética SteamPunk nasceram antes mesmo do termo sequer ser cunhado, o que significa que o autor jamais teve a intenção de se alinhar com isso ou com aquilo.

A intenção do autor, apesar de ser uma ótima bula e uma demonstração da genialidade de quem assina a obra, é mero epifenômeno diante da resignificação empreendida pelos espectadores, que vão resignificar e fruir a obra muito depois da morte do autor e do esquecimento da posologia por ele decidida.

Não há, enfim, uma junta diretora que defina o que é SteamPunk. As definições existentes são somadas a flexibilidade cognitiva de cada um para gerar uma diversidade de perspectivas da realidade, como é com tudo mais na vida.

Se você quiser então saber “O que é SteamPunk”, dê uma lida aqui, ali e acolá, mas depois de ler as definições, liberte-se delas.

Definições mostram o caminho, mas ficam no caminho e acabam engessando a imaginação.

Bruno Accioly
conselho@steampunk.com.br

Co-fundador do Conselho SteamPunk, Bruno Accioly é diretor da dotweb - empresa que faz a infra-estrutura de internet da organização - concebeu a iniciativa aoLimiar.com.br, é fundador da Sociedade Literária Retrofuturista e autor de "Crônicas Póstumas".

3.604 Comentários
  • concordo em gênero, número e grau.

    os rótulos só são bons quando ajudam as pessoas a classificar, inspirar, etc. quando se torna um cercado ou uma prisão acaba por limitar o artista e o apreciador.

    curiosidade: imagina alguém virar pro Tom Waits e falar “você é steampunk”!

    novembro 5, 2008 at 1:48 pm
  • Shishikishi

    Ótimo post!

    Também não gosto muito de rótulos, eles limitam muito quando mal usados, mas as vezes são necessários para por limites e um pouco de bom senso na história (creio que estamos falando de livros).

    Mesmo não simpatizando com essas classificações, ainda quero escrever algo que seja considerado candlepunk pelo público 😀

    novembro 6, 2008 at 12:30 am
  • Ainda mais quando o proprio termo foi criado por gracejo; o que conta é a sensação que o trabalho passa, aquilo que te faz pensar “Isso não devia estar aí… mas fica tão legal”

    novembro 8, 2008 at 4:39 am
  • Excelente post!
    A mesma coisa acontece com a ficção científica de modo geral. Existem tantas definições quanto o número de fãs/escritores/cineastas/etc. Acho que o rótulo é importante como guideline, mas não dá para ficar apegado a ele como uma bíblia. Concordo com o comment do Karl, acima: talvez até não devesse estar ali, mas fica tão bacana que a gente acaba usando. 🙂

    novembro 8, 2008 at 12:53 pm
  • Victor

    Nunca há rótulos. Há elementos que combinam.

    Para mim, elementos da série “Carnivale” da HBO podem ser facilmente incorporados à um cenário steampunk, assim como a equipe Geitguyz acredita nisso; mas essas personagens também ficam ótimas em filmes de suspense dos anos 50 ou mesmo em um futuro distópico. Eu posso adicionar elementos comuns como gomas de mascar e máquinas de refrigerantes, comuns no começo do século passado, a qualquer história que deseje criar e bastando dar uma nova estética aquilo poderá ser steampunk, ficção científica ou mesmo uma fantasia medieval com tecnologia diferente.

    Alguém aqui pensou em Star Wars ter originado-se de algum filme western? Nunca notaram semelhança alguma? Apenas uma variação e outra e encontramos novos rumos para a criação.

    novembro 14, 2008 at 3:57 pm
  • S.Bourne

    Não podemos rotular, pois isso nos limita.Acho que é melhor pensarmos e trabalharmos com elementos dessa cultura apaixonante meus caros carbonários.
    Um dos filmes mais lindos com elementos StreamPunk que já ví foi “Capitão Sky e o Mundo de Amanhã” que por sinal até hoje,sabes lá o motivo o site não saiu do ar : http://www.warnerbrosfilmes.com.br/filmes/capitao_sky/br/

    novembro 24, 2008 at 1:01 am
  • Muito bom! Mas nao vamos esquecer que os labels existem pra nao virar bagunça. Rs

    outubro 29, 2009 at 9:57 pm
  • Punkavapor

    Acredito que o rótulo steampunk, bem como qualquer outro rótulo foi designado para justamente propor uma discussão mais centrada e também uma “tabula rasa” para que a coisa toda, usando o portugues claro, não vire bagunça. O que vem como definição básica e clássica vira “purista” e depois qualquer coisa que tenha vapor pode virar steampunk e aí vale quaisquer definições.

    O pior é ver muita gente falando de steam punk e não tem nem base literária para isso.

    Acho bacana levantar esta questão mas por favor nnao a deixem rasa demais.

    outubro 30, 2009 at 2:13 pm
  • O Steampunk começou classificando as obras de anacrotecnologia ( ou retrotecnologia) porque os fãs destas obras combinavam.

    O que me atrai no Steampunk é exatamente o descompromisso que obras como Flash Gordon ou metropolis tinham, que assumiam mais um compromisso estético e alegorico. Tinham uma liberdade que as recentemente foi recuperada com o futuro do pretérito. Até mesmo um presente baseado em uma visão onirica do passado.

    Eu mesmo escrevi um livro que considero steampunk, se passa em uma realidade alternativa aonde mágica é usada como parte de mirabolantes máquinas a vapor são movidas.

    Até coloquei em um site:
    http://clubedeautores.com.br/book/6326–Arcanom_O_futuro_esquecido

    Mas se começar a colocar essas classificações, subdiviões e rotulos eles vão acabar perdendo o sentido.

    Hoje mesmo eu vi que Metropolis, Rocketeer e Fullmetal Alchemist foram classificados como Dieselpunk. ( Que eu nunca havia ouvido falar até hoje.)

    novembro 9, 2009 at 4:06 pm
  • Sim, como menciona na carta obras baseadas na tecnologia da era vitoriana o que deixa uma vasta gama de possibilidades.
    Claro que não é nada oficial pode se alterar o termo como quiser, mas espero que não o limitem.
    Se ficar algo como só obras que se passam em londres na era vitoriana, acho que até perderia a nescessidade em chamar de steampunk.

    novembro 9, 2009 at 5:24 pm

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