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SteamPunk | Entrevista para Rudge Ramos Online/Metodista
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jun 09 2009

Entrevista para Rudge Ramos Online/Metodista

Entrevista para Rudge Ramos Online/Metodista

Esta entrevista foi dada para a revista de Internet Rudge Ramos Online, da Metodista, e feita por Bruna Gonçalves.


Rudge Ramos Online: O que é steampunk? Como surgiu?

O SteamPunk é um sub-gênero da Ficção Científica e, em certos casos, de Fantasia. Trata-se, fundamentalmente, de um movimento literário que tem como principal característica a criação de universos ficcionais ou realidades alternativas cuja temática retrô remete a Era Vitoriana. O período do Século XIX no qual se baseia a estética SteamPunk é invariavelmente mesclada a uma tecnologia baseada nos preceitos da época mas invocando o fantástico, como se pode ver em trabalhos de Julio Verne e H.G.Well, com “20mil Léguas Submarinas” e “A Máquina do Tempo”, por exemplo.

Essencialmente surgiu como uma “linguagem” ficcional, um recurso dramatúrgico, em meados da década de 1980, nos EUA, e foi se popularizando lentamente, principalmente devido ao desdobramento desta literatura em uma proposta estética. Na literatura, o “movimento” surge com Tim Powers e James Blaylock, quando K.W.Jeter batiza o objeto ficcional destes autores como literatura SteamPunk. Etimologicamente, o termo surge como desdobramento do termo CyberPunk, com o qual foi batizado outro sub-gênero da Ficção Científica.

O curioso é que mesmo romances e outras obras ambientadas no século XIX vêm sendo denominadas obras SteamPunk, o que torna o movimento intrinsecamente anacrônico e paradoxal.

Rudge Ramos Online: Qual a filosofia desse movimento?

Enquanto movimento artístico-literário-cinematográfico, é difícil associar uma Filosofia ao movimento. Acontece que os entusiastas das obras SteamPunk são o pináculo de sustentação do que se poderia chamar – sendo indulgente com o temo – de “movimento cultural”.

O SteamPunk não está tão afinado com o conceito de movimento cultural quanto o Punk, estando mais próximo do que foi o CyberPunk, uma proposta de linguagem, uma proposta estética e, possivelmente, um instrumento formador de opinião.

Não me arriscando a acreditar que posso representar todos os entusiastas do gênero, creio que posso afirmar que há, tanto na proposta estética quanto nos conceitos que permeiam o SteamPunk, uma intenção de cuidado com a relação Homem/Máquina, Homem/Meio-Ambiente e com as relações humanas.

O termo movimento só não está mais banalizado, hoje, que o termo filosofia e não me arrisco a afirmar que exista uma filosofia de fato, entretanto, a preocupação do Conselho SteamPunk – fundado no Brasil em 2008 no Rio de Janeiro e em São Paulo – passa pelos interesses, anseios e aspirações dos interessados e participantes do movimento.

Vale visitar: http://www.steampunk.com.br/2009/04/04/utopia-distopia-e-realidade/

Rudge Ramos Online: Qual estilo de vida que levam?

De um modo geral os Steamers são um grupo bastante heterogêneo, até porque não existe apenas um romance, um filme ou uma franquia que seja proprietária do gênero.

Há aqueles que sejam cosplayers interessados em promover o gênero através das vestes e comportamentos; há aqueles que são quase eruditos e interessados em catalogar e discutir o que é ou não SteamPunk dentre o que já foi produzido até hoje; e há aqueles que fruem toda obra SteamPunk com gosto e gosta de sair pra comentar sobre elas (e sobre outras coisas) em rodas de amigos. Enfim… são pessoas como você e eu que desfrutam de um interesse comum.

Rudge Ramos Online: Como é esse movimento no Brasil?

Há mais de um grupo desenvolvendo atividades, divulgando e produzido cultura SteamPunk no país.

Posso falar do Conselho SteamPunk, fundado por mim mesmo e por Raul Cândido Ruiz e que nada mais é que um grupo interessado em divulgar, inspirar e produzir material para um grupo crescente de pessoas interessadas.

O papel do Conselho é, através de suas “Lojas” – como denominamos cada grupo regional – levar o SteamPunk para um número cada vez maior de pessoas que ainda não conhecem o movimento e promover eventos e atividades relacionadas a estes interesses.

Adicionalmente, o papel do Conselho SteamPunk é fornecer infra-estrutura para cada uma das suas Lojas, garantindo hospedagem sem custo para criação de websites e servir de base de conhecimento digital para todos os interessados.

Outra componente interessante é o intercâmbio internacional, que se reflete na produção conjunta e transferência de conteúdo com outros países, como é o caso de algumas ótimas entrevistas que a Loja São Paulo e a Loja Rio de Janeiro vem promovendo, bem como a parceria com o site alemão www.clockworker.de.

Rudge Ramos Online: Para você, o que precisa ser feito para que seja mais conhecida no país?

Além de todo o trabalho que grupos relacionados ao gênero SteamPunk vêm desenvolvendo, é preciso que a produção cinematográfica, material em quadrinhos e literatura seja produzida, não só no Brasil, mas em todo o Mundo.

O importante, contudo é produzir e se divertir com o resultado, muito mais que esperar que haja notoriedade.

O interesse do Conselho SteamPunk é, através da produção cultural, sensibilizar os entusiastas do gênero acerca de sua história, questões ambientais, morais e éticos, tudo sem o peso do aborrecimento e usando o entretenimento como veículo.

Rudge Ramos Online: Como você ficou conhecendo o movimento?

Muitos interessados acabam dizendo que antes de conhecer o termo já identificavam seu interesse pela estética retrofuturista de Verne, Wells, Jean Pierre Jeunet, Terry Gillian e tantos outros, e não foi diferente comigo. Tudo o que foi feito usando esta estética estava, em mim, guardado com muito carinho.

Quando o termo veio a meu conhecimento em 2007 foi, imediatamente, uma revelação, e foi daí que nasceu o site www.steampunk.com.br, que hoje é lar do Conselho SteamPunk.

Rudge Ramos Online: Existe um perfil de quem adere?

Não. Posso afirmar categoricamente um perfil não existe. Mas percebemos que há uma característica comum em todos os que aderem ao Conselho SteamPunk ou se acerca do que fazemos… um termo que a autora brasileira de ficção Cristina Lasaitis (http://www.outracoisa.com.br/2008/11/16/cristina-lasaitis/) científica trouxe de novo a baila… uma coisa chamada Sense of Wonder, uma sensibilidade particular para com o fascínio e o fascinante.

Todos aqueles que sabem ouvir e apreciam o imaginário, o fabuloso e o fantástico vão se interessar pelo SteamPunk.

Rudge Ramos Online: Existe preconceito das pessoas?

Creio que não. Existe, logicamente, uma tendência a fazer pouco de qualquer interesse incomum e aquele comportamento jocoso comum a quem não partilha do culto a um conjunto de obras e tal. É como acontece com Trekkers (Star Trek), Jediers (Star Wars), Brown Coats (Firefly) e tantas outros grupos com interesses divergentes da maioria.

Hoje em dia, contudo – e como costumo brincar, depois de “Matrix” – o termo Nerd perdeu força e a cultura nerd se confunde com a cultura pop de muitas maneiras. Isso se deve, a meu ver, a obras herméticas dos quadrinhos e da literatura terem sido descobertas pelos grandes estúdios e graças também ao movimento da Marvel e da DC em direção aos empreendimentos cinematográficos, os grandes responsáveis pela popularização do que era, outrora, hermético.

Rudge Ramos Online: O que caracteriza um adepto a essa tribo? E visualmente?

Nem todos saímos por aí vestidos em roupas vitorianas, com relógios de bolso, cartolas, bengalas e outros andrajos, além dos elementos retrofuturistas não Vitorianos.

Não existe obrigatoriedade de vestimentas em qualquer encontro, mas um grande contingente de pessoas se interessa pela prática do cosplay no Conselho SteamPunk e muitos de nós acabam aparecendo, em encontros, paramentados de acordo.

Revestir-se do interesse e do empenho na produção de cultura SteamPunk é, de um modo geral, mais importante para Steamer do que vestir-se de acordo com um dado código.

Mas que é divertido viver a fantasia de viver outra realidade, não há como negar!

Vale visitar também: www.steamgirls.com.br

A entrevista acima serviu de insumo para o artigo publicado em: Metodista.br/rronline

Bruno Accioly
conselho@steampunk.com.br

Co-fundador do Conselho SteamPunk, Bruno Accioly é diretor da dotweb - empresa que faz a infra-estrutura de internet da organização - concebeu a iniciativa aoLimiar.com.br, é fundador da Sociedade Literária Retrofuturista e autor de "Crônicas Póstumas".

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