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SteamPunk | Os Bastidores de The Ningyo – Estrevista com Miguel Ortega
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jul 13 2018

Os Bastidores de The Ningyo – Estrevista com Miguel Ortega

The Ningyo foi um dos curta-metragens mais impressionantes lançados no ano passado. Uma história sobre um naturalista em busca de um ser lendário e da própria redenção, e se deparando com meio inesperado de atingir o seu objetivo. Um caminho que talvez ele não queira seguir. A narrativa de 27 minutos foi concebida para ser o ponto de partida para futuras histórias envolvendo a procura de criaturas fantásticas. usando toda a tecnologia disponível em um cenário de época.

Eu já falei do curta neste post, sobre como ele eleva o nível das produções steampunk com sua elegância e cuidado milimétrico na produção, e sobre como ele foi feito, com os criadores transformando a própria casa nos sets de filmagem e trabalhando dia e noite nos efeitos visuais por um longo tempo (longo tempo mesmo). Mas informações diretamente da fonte são sempre melhores, sendo assim, dei um jeito de ter uma pequena conversa com Miguel Ortega, diretor de The Ningyo, onde ele nos deu mais alguns detalhes sobre como foi produzir o curta.

Bem, sem mais perda de tempo, vamos a entrevista.


Bem, por que não começamos com as apresentações?

Meu nome é Miguel Ortega, eu sou um Diretor e Artista VFX nascido na Colombia. Atualmente vivo em Los Angeles, California, com minha parceira criativa e doméstica, Tran Ma. Eu já modelo criaturas a mais de 10 anos, e trabalhei em filmes como Uma Noite no Museu, 300, O Nevoeiro, Thor, e muitos outros.

 


Quando se formou a ideia para The Ningyo, e quanto tempo levou para se tornar de apenas uma vaga noção até “ok, estamos realmente fazendo isso” ?

Sendo artistas de efeitos especiais especializados em criaturas, o melhor era fazer uso dos nossos fortes. Nos conhecemos criaturas, monstros eram algo que queríamos no nosso filme, mas não queríamos fazer apenas um trailer de efeitos especiais, e sim algo centrado nos personagens e baseado em eventos e figuras históricas. Uma vez que fizemos o kickstarter não tinha mais como voltar atrás.

 

Depois disso, quanto tempo levou a produção do filme? Entre pré-produção, fotografia, efeitos, prós-produção, tudo.

Foram 3 anos dolorosos. Aproximadamente 15 horas por dia, 7 dias por semana.

 

Quais ideias e visuais vocês estavam determinados a incluir no projeto?

Eu realmente queria incluir o Okapi, que é tão importante para o mundo da criptozoologia. Infelizmente não havia verba o suficiente para filmar a morte da criatura no Congo, então tivemos de mostrar o que aconteceu depois disso. O traje de mergulho dos Carmagnolle, que é um traje de mergulho real dos 1890’s. Embora essa tenha gerado um certo arrependimento, porque as pessoas assumem que roubamos de Bioshock, o que me deixa maluco. Além disso tudo, nos só queríamos um clima de realismo para tudo. Queríamos barbas reais, Modelos T reais, figurinos que parecessem autênticos e não cosplays. Nos queríamos que os elementos “steampunk” lembrassem o material original da época, e não fan art.

 


Quais foram as inspirações (históricas e míticas) do mundo real para os elementos de The Ningyo?

O mito do Ningyo é milenar mo Japão. A lenda da Yao Bikuni, em particular. Do lado americano, o Okapi é o símbolo da Sociedade de Criptozoologia desde que foi descoberto em 1901, então isso tem um grande papel em nossa história.

 


Também fomos bastante influenciados pelas primeiras noções de conservacionismo. Os museus da época sabiam que, pela maneira em que estavam sendo caçados, os elefantes, rinocerontes, etc, se tornariam extintos logo. Sua ideia “genial” foi mandar caçadores, como Carl Akeley, para matar e empalhar os animais ameaçados. A justificativa deles era de que assim gerações futuras teriam a chance de ver como um elefante se parecia. Muitos desses caçadores perceberam que isso não era lá muito inteligente, e ajudaram a criar parques nacionais dos Estados Unidos (Teddy Roosevelt) e na Africa (Carl Akeley).

 


Nosso personagem principal também foi bastante influenciado por Grover Krantz, que foi um professor de antropologia da Washington State University. Ele se tornou meio que um constrangimento para a universidade por conta de sua obsessão em achar o Pé Grande. Diferente de muitos dos “excêntricos” caçadores de monstros, ele usava a ciência como ferramenta. Ele analisava a distribuição de peso em pegadas, as amostras ósseas em microscópios, etc.

 


Como foi o processo de transformar sua própria casa nos sets de filmagem? Fazer um cômodo se transformar em um escritório legítimo de 1900, um Gabinete de Curiosidades cheio de criaturas exóticas, ou uma ostensiva sala vitoriana. E quais foram os contratempos nisso que vocês tiveram de contornar.

As limitações e partes complicadas sempre foram financeiras. Não podíamos apenas ir em um antiquário e comprar um monte de coisas legais, porque elas eram caras demais. Mas eu não queria nada que não fosse do período correto. Então tivemos de procurar em anúncios de vendas por antiguidades baratas que estava, as vezes, em condições não muito boas. Tivemos de dirigir horas, em alguns casos 8 horas, para conseguir um gabinete. Muitas vezes tivemos de restaurá-los completamente para que ficassem apresentáveis novamente. Removendo a tinta, re-envernizado, etc. Isso tomou muito tempo. Passamos tanto tempo conseguindo cada peça, que acabamos apegados a todas elas. Ainda temos tudo na nossa casa. Dormimos no escritório do Marlowe. E nossa sala ainda é a sala do Sealous.

 


Qual sequência, detalhe individual, ou criatura, levou mais tempo para terminar?

Acho que a sala do Sealous levou mais ou menos 4 meses pra fazer. E tudo foi basicamente feito pela Tran Ma, que é uma força da natureza. Aquela sala tem tantos detalhes que cada frame levava 48 horas para renderizar (calculando a luz em 3D). Cada esqueleto da sala levou quase uma semana, ou mais, para terminar. Foi um processo gigantesco.

 


Além disso, eu acho que a cena da sala de conferências foi bem difícil, porque tinha cerca de 80 “dublês digitais” que precisavam ter simulações de roupas, cabelos, etc, feitas em 3D. E isso, novamente, foi porque não existia verba para contratar tantas pessoas. Cada criatura levou cerca de um mês e meio para fazer. E algumas, como a lula, são vistas em apenas uma tomada.

 


De quantas coisas diferentes vocês eram encarregados enquanto filmavam?

Diferentes dias de filmagem pediam tarefas diferentes, mas fizemos tudo o que precisávamos. Não havia ego no set. Tivemos de ir de direção em um momento, para servir tacos para a equipe no outro. Nos eramos o serviço de bufê, os motoristas, o departamento de figurinos. Tudo que era necessário.

 


Depois de terminarem a fotografia, como vocês dividiram a carga de trabalho nos efeitos visuais? Foi por preferência, um fazendo criaturas enquanto outro fazia objetos, ou vocês alternavam?

A maioria da carga de trabalho no dia a dia foi Tran Ma e eu. Conforme tínhamos mais e mais para mostrar, conseguimos a ajuda de alguns amigos que vinham para fazer uma ou duas tarefas diferentes, e aí voltavam para suas vidas. Normalmente um VFX film é bem compartimentalizado. Cada pessoa se foca em uma parte do processo, por exemplo, modelagem, iluminação, pintura, etc. Nos tivemos de aprender como fazer tudo, já que não havia outra opção. Isso significa, em muitos casos, que tivemos de aprender como fazer as coisas primeiro, para depois fazer em um nível profissional. Foi doloroso.

 


A reação do público nas exibições (e online também) estão sendo o que vocês esperavam?

Tem sido ótimo. Queríamos que todo mundo pudesse ter visto pela primeira vez em um cinema, ao invés de online, mas tudo foi muito bom. Saíram vários artigos, e revistas estão escrevendo sobre o que fizemos. Ganhamos vários prêmios em festivais, e tivemos resultados tão incríveis. Websites como o seu realmente fazem um grande impacto. Então, se sua audiência gostou do filme, eu encorajo eles a compartilharem em suas redes sociais.

 

E o que acontece agora que o filme já saiu? Já aconteceram visitas a estúdios, reuniões e coisas do tipo? Se sim, o quanto disso vocês podem comentar?

O filme chamou atenção da CAA, que nos ofereceu representação. CAA, para quem não conhece, é uma das agências de talentos mais influentes que existe. Eles representam gente como Steven Spielber, James Cameron, J.J. etc. Então, pra mim, isso foi muito importante. Nos somos, sem dúvida, o menor peixe nesse aquário, mas eu estou mais que honrado em ser parte desse grupo. Isso nos levou a estar na mesma sala que cada estúdio importante e alguns dos maiores produtores do ramo, basicamente. Eu não posso dar muitos detalhes no momento, mas eu posso dizer que The Ningyo, no momento, está sendo desenvolvido para ser um longa metragem com um produtor, e produtora, incríveis, que esperamos poder anunciar lá pelo fim de janeiro.

 


Existem outras histórias que vocês querem contar com os personagens de The Ningyo, talvez envolvendo a procura por outras criaturas? (Só mencionando, mas o Brasil tem um monte de criaturas míticas estranhas que aposto que ninguém nunca ouviu falar)

Eu adoraria incluir criptídes da Floresta Amazônica compartilhada do Brasil e da Colômbia. O Mapinguari, o Quimbungo, existem tantos. Queremos que o ningyo seja o que a Arca da Aliança foi para Caçadores da Arca Perdida. É sobre o Indiana Jones, não sobre o tesouro. Então, se formos, esteja pronto, eu vou usar você como figurante… mas você precisa deixar crescer uma barba de verdade!

 

Você pode assistir The Ningyo no Vimeo:

E você pode acompanhar as ultimas notícias e compartilhar o curta em sua página do Facebook.

 

Karl Felippe
Karl@steampunk.com.br
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